Carta Convite: Pela Construção do Comitê Goiano para Revogar o Novo Ensino Médio

Convidamos a todos, todas e todes para reunião, com vista à criação do Comitê Goiano pela Revogação do Novo Ensino Médio (NEM), no dia 25 de março, sábado, das 9h às 12 h no miniauditório da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, Setor Universitário.

A década de 1990 evidencia uma disputa política em torno de dois projetos educacionais: de um lado, aquele forjado no âmbito da luta pela democratização da sociedade brasileira, que se vincula à construção de uma formação emancipatória, cujas bases estão na universalização da educação básica de qualidade para todos e na responsabilização do Estado para efetivá-la, na socialização do conhecimento científico, artístico, filosófico, aos estudantes, independentemente da sua origem social, de raça ou gênero, na formação integral. De outro, aquele assentado nos princípios e nas políticas neoliberais que recolocam a educação como instrumento necessário ao desenvolvimento da economia capitalista, agora ancorado na reestruturação produtiva, na flexibilização da organização e da execução do trabalho e na diminuição da ação do Estado no fomento de políticas sociais.

O Novo Ensino Médio, estabelecido pela Lei 13.415/2017, que foi antecedida pela medida provisória MP 746/2016 e que conferiu a esta lei uma origem autoritária, foi alvo de inúmeras críticas que desembocaram em várias movimentações contrárias, entre elas, as ocupações das escolas em todo o país por estudantes. O Novo Ensino Médio se estabelece em um contexto de restrição dos gastos públicos, por meio da PEC-95, entre eles aqueles voltados à educação. Esta situação demonstra que a mudança instituída no Ensino Médio não se desdobraria em investimentos públicos.

Posto isso, o que se observa é a ênfase na mudança curricular concebida de maneira restrita, como matriz ou “grade” de disciplinas ou apenas atividades. Contudo, o “novo” mesmo nessa dimensão implica, como se observa hoje, mediante pesquisas sobre o seu desenvolvimento em alguns Estados, a fragilização da formação dos estudantes, a desestruturação do trabalho docente, o aprofundamento da dualidade educacional e a subserviência da educação ao mercado e às determinações dos organismos internacionais.

A lei retira a obrigatoriedade de algumas disciplinas, negando aos estudantes acesso ao conhecimento produzido e necessário à humanidade, e reduz os conhecimentos ao indispensável às competências e às habilidades para atender ao mercado de trabalho. O docente passa a ter um trabalho que se decompõe em decorrência da diminuição dos conhecimentos a serem ensinados e da criação de grande quantidade de disciplina eletivas. Pouco é exigido da sua área de formação, mas muito da sua capacidade de “inventar” conteúdos para ser uma etapa mais atrativa aos estudantes. Soma-se a isso a intensificação da precarização do trabalho docente, uma vez que terá que completar a carga horária em várias escolas e ser um profissional polivalente, que atua em múltiplas áreas do conhecimento, mesmo que de maneira genérica.

O Novo Ensino Médio reforça o estabelecimento histórico de uma escola para ricos e outra para pobres. Escolas particulares ou públicas que têm mais financiamento estão garantindo o acesso dos estudantes aos diversos tipos de conhecimentos – científico, artístico, filosófico e o técnico integrado – e atividades formativas, enquanto a maioria dos sistemas educacionais públicos, que atendem a maioria dos estudantes brasileiros, ofertam menos conhecimentos e atividades. É a universalização de uma escola pobre, em conteúdo formativo, infraestrutura e profissionais valorizados. Por fim, o “novo” ensino médio insiste na vinculação da educação aos preceitos do mercado de trabalho quando recoloca o ensino profissional. Contudo, é a velha capacitação restrita, sem integração com a formação geral, que continua distanciando a formação do trabalhador de sua vertente omnilateral.

Por fim, é preciso considerar que nenhuma reconstrução nacional se faz com uma educação que despreza o valor humanitário de sua natureza. Uma educação nesses termos será evidenciada quando estiver ao lado da luta contra a fome, do desenvolvimento social, do respeito à diversidade, da preocupação com o meio ambiente. E os índices de qualidade tão propagados e evocados hoje não medem essa dimensão. Assim sendo, são instrumentos que não servem a uma educação emancipatória.

Em face dessa realidade e acompanhando iniciativas em cursos em diversos Estados, propõe-se um processo de criação do Comitê Goiano pela Revogação do Novo Ensino Médio, que contemple a participação, entre outros setores, de professoras/es do Ensino Médio e das Universidades, de entidades estudantis e sindicais de trabalhadoras/es da educação, de movimentos e de organizações da sociedade civil vinculadosà defesa de uma educação integrada e emancipátoria e de gestores à frente de instituições de educação.

O acesso para quem não puder comparecer pessoalmente poderá ser feito via Google Meet:  https://meet.google.com/ipc-osyp-pto

Revogação já do Novo Ensino Médio!

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