1 ano sem Marielle – biografia da vereadora que defendia os oprimidos: das mulheres negras aos policiais vítimas da guerra às drogas

MULHERES QUE ENTRARAM PARA A HISTÓRIA – série da assessoria de comunicação do Sintef-GO que contará a vida e obra, em cada dia do mês de março, de uma mulher que entrou para a História. A série faz parte da celebração do mês em que se comemora o dia internacional da mulher

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12ª MULHER – A homenageada do dia 14/03 não poderia ser outra que não Marielle Franco, assassinada há exatamente um ano, no Rio de Janeiro. Os dois principais suspeitos de envolvimento são ex-policiais militares do Rio de Janeiro, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, envolvidos com milícias.

Em dia 14 de março de 2018, por volta de 21h30, na região central do Rio de Janeiro, um carro com o motorista Anderson Gomes e a vereadora Marielle Franco foi alvejado por homens dentro de um Cobalt prata. Ambos morreram. Marielle acabara de sair de uma roda de conversa com mulheres negras na Lapa, voltava para casa e foi perseguida e morta com 4 tiros, junto de seu motorista, Anderson. Um ano após sua morte, as investigações continuam sem dar respostas concretas sobre quem os matou, a mando de quem e com quais interesses.

Marielle Franco era formada em Ciências Sociais pela PUC-RJ e mestre em administração pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com a tese “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro”. Militava pelos direitos humanos desde 2000, quando teve uma amiga morta em uma troca de tiros na Favela da Maré. Além do apoio às causas de minorias, como as mulheres e as LGBTs, Marielle se notabilizou por trabalhar junto do deputado federal Marcelo Freixo, também do PSOL, na coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde lutou contra a atuação das milícias, pela legalização do aborto e na prestação de auxílio jurídico e psicológico a familiares de vítimas de homicídios ou policiais vitimados.

Marielle foi símbolo da luta da população negra, pobre e periférica pelo reconhecimento de existir, resistir e ter seus direitos reconhecidos, tendo sido morta por suspeitos de envolvimento com as milícias lideradas por ex-comandantes do BOPE e da PMERJ, numa situação de intervenção federal, onde a segurança pública do estado encontrava-se liderada e tutelada pelas Forças Armadas.

No início de 2019, descobriu-se que Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega e Raimunda Veras Magalhães, esposa e mãe, respectivamente, de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão do BOPE suspeito no assassinato da ex-vereadora, foram funcionárias comissionadas do gabinete de Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, quando ainda era deputado estadual na Assembleia do Rio (Alerj). Ambas trabalharam por mais de 11 anos com Flávio, recebendo um salário de R$ 6.490,35. O PM do BOPE é investigado, além do assassinato, também por possuir vínculos com a milícia carioca da Favela de Rio das Pedras chamada de “Escritório do Crime” ao lado de outros políticos, como o deputado estadual Domingos Brazão (MDB). Flávio Bolsonaro, a despeito das suspeitas que recaem sobre Adriano da Nóbrega, condecorou-o com a medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Alerj, quando era investigado pela participação numa chacina de cinco adolescentes na Baixada Fluminense, em 2003.

Na última terça-feira, dia 12/03, operação conjunta entre o Ministério Público do Rio de Janeiro, Polícia Civil e um destacamento secreto de investigadores da Polícia Federal, chegou aos prováveis assassinos: Ronnie Lessa – ex-capitão do BOPE, sargento reformado, matador de aluguel de grupos milicianos e vizinho de condomínio de Jair Bolsonaro, Élcio Queiroz – motorista do carro de onde partiram os tiros e ex-policial militar, além de Alexandre Mota de Souza – amigo de Lessa, em cuja casa foram encontrados 117 fuzis falsificados e desmontados. No entanto, a investigação e a dúvida sobre quem mandou matar Marielle continuam

A ex-vereadora se tornou um ícone da conjuntura atual vivenciada no Brasil, com brutais ataques aos direitos da classe trabalhadora, ferindo especialmente seus setores mais fragilizados e historicamente explorados, como as mulheres negras e LGBTs. Jogou luz também no possível envolvimento dos atuais chefes do governo federal com as milícias cariocas, responsáveis por grilar terras e dominar comunidades através da corrupção, extorsão, formação de currais eleitorais e tráfico de drogas e armas. Sua execução mobilizou diversos atores nacionais e internacionais a homenageá-la e cobrar explicações pela celeridade da investigação, a exemplo da Anistia Internacional, a ONG Human Rights Watch, a Cruz Vermelha e o Escritório de Direitos Humanos da ONU. As homenagens vieram da turma de formandos de diplomatas de 2018 do Instituto Rio Branco, autodenominada “Marielle Franco”, e da bolsa de estudos “Marielle Franco”, do Programa de Estudos Latino-Americanos (LASP) da Escola de Estudos Internacionais Avançados (SAIS) da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

Confira aqui matérias que aprofundam o assunto das milícias cariocas e o processo de investigação da morte de Marielle:

https://piaui.folha.uol.com.br/materia/a-metastase/

https://apublica.org/…/no-rio-de-janeiro-a-milicia-nao-e-u…/

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