SOBRE O USO DE MÁSCARAS CIRÚRGICAS

O que não falta nesta crise da pandemia de Covid-19, desde seu início, é informações se desencontrando. Mesmo no meio científico e profissional há constantes disputas sobre quais medidas de prevenção tomar. O único consenso é que o distanciamento social é, até agora, a melhor forma de prevenção. Não entenda mal, esse debate enriquece a produção científica, sempre que acompanhado de embasamento teórico ou seguido de pesquisas a respeito. Um desses debates, ao qual nos concentramos hoje, se dá acerca do uso das máscaras cirúrgicas e sua eficácia.

O Ministério da Saúde, assim como autoridades de outros países e a Organização Mundial de Saúde, recomenda o uso apenas para pessoas já infectadas ou com suspeita, além dos profissionais da saúde.

Por outro lado, países que enfrentaram melhor o vírus até agora, como China e Coreia do Sul, contaram com um uso massivo das máscaras. Então, afinal, devemos ou não usar máscaras?

Antes de mais nada, é importante saber que as máscaras cirúrgicas efetivamente impedem a passagem de gotículas e partículas que podem estar contaminadas. Mas essas máscaras não filtram o vírus. 

QUEM DEVE UTILIZAR?

Então por que profissionais da saúde e pessoas doentes devem utilizá-las? Ao bloquear a passagem das gotículas e partículas, as máscaras diminuem as chances de que alguém que carrega o vírus em seu corpo possam contaminar outras pessoas, mas também transportam o vírus, que podem sobreviver até 6 horas*. Isso quer dizer que, se por um lado elas diminuem o risco de infecção quando utilizadas por um portador do vírus, por outro lado ela aumenta o risco de contaminação daqueles que as usam sem estar contaminados, ao manter o inimigo ali, bem pertinho. 

Além disso, é importante lembrar que essas máscaras são descartáveis. Usá-las por mais que duas horas pode provocar o acúmulo de infectantes. 

Outro fator que pode causar acúmulo de contaminantes é o manuseio de forma incorreta das máscaras. É importante que a pessoa que utiliza as máscaras tenha o devido preparo para o seu uso. Ações como retirar a máscara para falar ou tocá-la sem a devida higienização das mãos podem causar a contaminação, inutilizando o material.

Mas e a experiência dos países asiáticos e suas máscaras? Um ponto importante de se ressaltar é que a Coreia do Sul desenvolveu um tipo específico de máscaras, que de fato filtra o vírus. Além disso, a máscara sul coreana pode ser lavada e reutilizada por até um mês. 

SENSO COLETIVO ACIMA DO INDIVIDUALISMO

Outro ponto importante a se pensar é que o número de máscaras cirúrgicas no mercado é limitado e o uso massivo delas pode significar a falta de máscaras para quem realmente precisa. 

Assim, se você precisa utilizar as máscaras cirúrgicas por ter suspeita de infecção ou por lidar com pessoas que podem estar contaminadas, procure se informar sobre o uso correto. Se você não precisa, mas acabou comprando o material na hora do desespero, que tal doar para hospitais públicos ou organizações que lidam com pessoas em situação de vulnerabilidade?

* O tempo de vida do vírus varia de acordo com as condições do ambiente, bem como com a superfície em que ele se encontra.

Este texto foi produzido com a colaboração da filiada Sulane Dias, da doutora em Medicina Tropical e Saúde Pública pela UFG Alaine Catão e da enfermeira Debora Bessa.

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