Servidores púbicos discutem táticas unificadas de luta contra ataques do governo

Na tarde da última segunda-feira (17/02) ocorreu uma plenária unificada dos servidores públicos das três esferas federativas: municipais, estaduais e federais, na sede da Adufg Sindicato. O objetivo foi reunir lideranças e bases de sindicatos de trabalhadores do serviço público para traçar táticas conjuntas de luta contra as diversas medidas de ataque ao setor, como a Reforma Administrativa, o congelamento das progressões na carreira de TAEs e docentes, a MPV 914, entre outros.

O evento reuniu cerca de 60 pessoas, coorganizado pelo Fórum Goiano e o Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), com a presença do presidente da entidade, Rudinei Marques. Além do Sintef-GO e Adufg, estiveram presentes  representantes dos sindicatos dos servidores do judiciário estadual e federal, do Ministério Público Federal e do Trabalho, dos peritos criminais da Polícia Civil, dos professores da rede pública estadual, da rede privada, técnicos administrativos em educação, servidores do INSS, da rede pública de saúde, analistas tributários da Receita Federal e servidores da Controladoria Geral da União. Também compareceram a Regional Planalto do Andes e as seguintes centrais sindicais: Intersindical – Central da Classe Trabalhadora, CSP – Conlutas, CUT e CTB.

O secretário-geral do Sintef-GO, Walmir Barbosa, destacou em sua fala que a resistência às contrarreformas impostas pelos governos federal, estadual e municipal deve ser travada centralmente nas bases de cada categoria, onde cada dirigente está mais próximo e consegue ampliar a mobilização. O professor explicou que o avanço do capital sobre o trabalho e os direitos sociais é um movimento mundial, reforçando a importância de não se perder do horizonte a dimensão internacional da luta dos trabalhadores.

“É fundamental o trabalho em nível de direção, em nível de base e em nível de massa. Sem o trabalho em nível de base nós não conseguiremos manter a mobilização de massas, trazer a mobilização às ruas e suportar a repressão aos ativistas e as direções das entidades. Em segundo lugar, é fundamental preservar a autonomia e a independência da classe trabalhadora. Nós não podemos submeter nossas organizações e movimentos à condição de forças auxiliares da luta calcada na institucionalidade e nas eleições. É importante, ao fim, muita unidade dos movimentos, no campo e na cidade, homem e mulher, trabalhador da iniciativa privada e do setor público, e muito trabalho de conscientização e politização da classe”, sentenciou Walmir.

Falando em nome da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora, o professor Alexandre Aguiar também enfatizou o caráter internacional, e especificamente latino-americano, da sucessão de golpes de Estado e do avanço do capital, do neoliberalismo e da destruição de direitos  sobre os trabalhadores. “Este é um momento decisivo não apenas para a categoria dos servidores públicos, mas para toda a classe trabalhadora, pois essa ofensiva destruidora de direitos, com caráter claramente protofascista, é latino americana. Tivemos o golpe contra a Bolívia e as seguidas tentativas de golpe contra a Venezuela, que pautam um projeto de sociedade organizada em torno do capital financeiro. É importante, por isso, estabelecermos  o nosso projeto de sociedade, construído nas nossas lutas locais”.

O professor também alertou para a sinuca de bico em que estão os servidores públicos, e convocou-os a construir a Greve Geral do Serviço Público de 18 de março. “Atualmente nós não temos para onde correr: o impacto da alíquota da reforma da previdência, mais os 25% de redução salarial da reforma administrativa, implicam em praticamente 3 meses de salário nosso. Portanto, se não fizermos greve vamos ter corte salarial, e se fizermos greve vamos ter corte de ponto, então vamos ter que ser honestos com nossas categorias. Só com a luta nas ruas podemos reverter o avanço dessas políticas.”

Ricardo Manzi, dirigente do Sindsaude, que representa os trabalhadores da saúde pública no estado de Goiás, afirmou que o momento histórico exige a unidade de todas as entidades sindicais, dos servidores públicos de todas as esferas federativas e dos movimentos populares. “Nós estamos vivendo a barbárie social. Isso é um processo político, econômico, trabalhista e previdenciário contra a soberania nacional, contra a educação, contra o SUS, que é a maior política de inclusão social do país, e que gera exclusão, desemprego, empobrecimento e mais pessoas em situação de rua. Então o que precisamos é fazer esse debate junto à sociedade, mostrar que atacar o servidor na verdade é atacar o serviço público, prejudicar a sociedade. Precisamos construir a unidade popular entre os movimentos sindicais e sociais para formular uma alternativa de sociedade em que os direitos do povo sejam plenamente atendidos.”

João Batista, representando o Sinjufego, que organiza os trabalhadores da Justiça Federal no estado de Goiás, afirmou que a categoria está mobilizada em todo o país para realizar um calendário de lutas e fortalecer a greve nacional e geral do serviço público em 18 de março. “Os ataques do governo Bolsonaro acabam tendo um lado positivo, que é unir os trabalhadores do serviço público, seja em qualquer nível federativo. Essa plenária representa a reorganização da luta, da mobilização que nós perdemos”. Por fim, o servidor do judiciário conclamou para que os sindicatos ali reunidos escrevessem uma moção de apoio e solidariedade à greve dos petroleiros, que já estão paralisados há 19 dias.

Um país que emite sua própria moeda não tem como “quebrar”

A fala foi feita pelo presidente do Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, ao realizar sua exposição na plenária, denunciando o consenso neoliberal propagado pelo governo e a imprensa de que as medidas de austeridade são necessárias para que o país tenha suas contas em ordem, atraia investimentos e não “quebre”. De acordo com o servidor, a ação é parte do avanço do grande capital sobre as garantias trabalhistas.

Ele também afirmou que, ao contrário do que comumente se propaga, existem proporcionalmente menos servidores públicos por habitante no Brasil do que em diversos países, e que os salários da maioria dos servidores, que estão nos estados e municípios, são equivalentes à média salarial do trabalho formal no mercado privado. O sindicalista também lembrou que o serviço público é um importante instrumento de redistribuição indireta de renda, garantindo acesso gratuito da população a diversos serviços essenciais. “Num país que está entre os mais desiguais do mundo como o Brasil, o serviço público acaba sendo a única porta de acesso de diversos setores da população para a educação, saúde etc”, declarou.

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