Ato se iniciou na Praça Universitária, após uma assembleia unificada entre os estudantes da UFG, UEG, IFG e IF Goiano, e caminhou em direção à Praça Cívica.
Aproximadamente 35 mil pessoas saíram às ruas da capital goiana no dia 15 de maio, o Dia Nacional de Greve da Educação. Os protestos foram convocados pelas entidades sindicais e estudantis do ramo da educação e da pesquisa, de abrangência nacional – CNTE (trabalhadores da educação básica), UNE (estudantes universitários), UBES (estudantes secundaristas), ANPG (pós-graduandos), Fasubra (servidores técnico-administrativos das universidades e institutos federais), Andes e Proifes (professores universitários) e Sinasefe (servidores da Rede Federal).
Confira as fotos da manifestação
As manifestações foram convocadas após o MEC anunciar, em período inferior a duas semanas, cortes na pesquisa para as Ciências Humanas, confiscar mais de 2 mil bolsas de pesquisa em todas as áreas do conhecimento e, por fim, bloquear 30% das verbas do MEC destinadas às universidades e institutos federais. O corte de 30% foi primeiramente aplicado à Universidade Federal Fluminense, Universidade de Brasília e Universidade Federal da Bahia, que, segundo o ministro da Educação, Abraham Weintraub, estavam “promovendo balbúrdia no espaço acadêmico” ao invés das atividades acadêmicas de rotina. Como tal ação administrativa seria inviável juridicamente, o corte foi linearizado e estendido a todas as universidades, institutos federais e ao Colégio Pedro II.
Em Goiás, de acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Educação, o Sintego, as escolas estaduais e municipais não funcionaram em 40 cidades, e todas tiveram manifestações populares. Ao todo, mais de 50 mil pessoas saíram às ruas no estado. Os campi da UFG, UEG, IF Goiano e IFG, que abrangem 45 municípios, também contribuíram nas mobilizações, seja com protestos, seja com coleta de assinaturas para o abaixo-assinado contra a reforma da previdência.
Na capital foi onde houve o maior ato, com aproximadamente 35 mil pessoas ocupando as ruas do centro de Goiânia. A manifestação se iniciou na Praça Universitária, com uma concentração que reuniu 10 mil pessoas, e foi aumentando na medida em que a passeata caminhava rumo ao Palácio Pedro Ludovico. O trajeto levou em consideração o significado simbólico que a Praça Universitária “Honestino Guimarães” possui, sendo o coração universitário da cidade (reuni campi da UFG e da PUC).
O presidente do Sintef-GO, Marcelo Lira, foi um dos diversos servidores da Rede Federal que compareceu, junto a outras centenas de estudantes dos institutos. Em fala no carro de som do ato, o professor reiterou que os ataques à educação perpetrados pelo governo Bolsonaro fazem parte da agenda do golpe de 2016, que segue em marcha. “Hoje é um dia histórico, construído a muitas mãos, por muitos movimentos, muitos partidos. Estamos nas ruas hoje organizados contra o aprofundamento da perspectiva de ditadura e de avanço do fascismo. Mas precisamos ter clareza que não é pela institucionalidade que vamos derrotar esse governo, não é com discurso eleitoral e parlamentar! Será nas ruas, com a classe trabalhadora. Por isso precisamos fortalecer o 14 de junho, data da greve geral nacional contra a reforma da previdência. Somente a luta muda a vida, e a vida hoje nos pede uma coisa muito simples: coragem para seguir em frente, coragem para marchar, coragem para derrotar o golpe e construir o poder popular”.
Confira a fala do professor Marcelo
Dia 15 pelo Brasil
De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), que agremia os sindicatos estaduais de professores e técnico-administrativos da educação pública básica, mais de 200 cidades pelo país tiveram manifestações contra as políticas de austeridade do governo Bolsonaro, incluindo todas as capitais. A CUT aponta que cerca de 5 milhões de pessoas participaram dos protestos, com destaque para São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde, somados, os atos arrastaram meio milhão às ruas. Ao longo do dia, a tag #TsunamiDaEducação ocupou o topo do Twitter Brasil desde o início da manhã e a segunda posição no ranking mundial.
Ao final do dia, as entidades nacionais dos estudantes, UNE, UBES e ANPG, fizeram uma nova convocatória: ocupar as ruas e paralisar escolas e universidades no dia 30 de maio, data do segundo dia nacional de greve e luta pela educação pública e contra os cortes do governo Bolsonaro. A nota conjunta das entidades afirma: “a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) mais uma vez convoca todos os estudantes para se mobilizarem nos próximos dias, indo às ruas com suas produções acadêmicas e materiais de estudo; convocando assembleias em todas as universidades, cursos, institutos federais e escolas; bem como convocando paralisações e a presença nos atos do dia 30 de Maio, acumulando forças também para a luta contra a Reforma da Previdência que terá seu ápice na Greve Geral de todos os trabalhadores no dia 14 de Junho.”
Apoios
Embora o 15 de maio tenha sido articulado por sindicatos de trabalhadores da educação e associações estudantis, a data ganhou relevância e foi apoiada por diversos sindicatos, fóruns e associações das mais variadas categorias profissionais. No dia 6, as maiores centrais sindicais do país divulgaram nota conjunta reforçando o chamado para a greve geral de 14 de junho e apoiando as manifestações nacionais de 15 de maio. A nota foi assinada pelos presidentes da CUT, Força Sindical, CTB, NCST, CGTB, CSB, CSP – Conlutas, Intersindical – Instrumento de Luta, Intersindical – Central da Classe Trabalhadora e UGT.
A Associação de Juízes para a Democracia (AJD), que tem caráter não governamental e sem fins corporativos, divulgou nota salientando que os atos em defesa da educação se somam às lutas em defesa da previdência social, e afirmando que “balbúrdia” é o atual estado do MEC. “Sob o falacioso argumento do combate à ideologia e da ‘balbúrdia’ nas Instituições Federais de ensino, o Ministério da Educação – este sim vivendo seus dias de balburdia e confusão – anuncia o contingenciamento de 30% das verbas destinadas às universidades públicas federais e, com isso, ameaça o funcionamento das instituições, melhores centros de ensino, pesquisa e extensão do país”, diz a nota. Além dos juízes, a Federação Nacional de Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público da União (Fenajufe) também participou ativamente das manifestações pelo país, endossando as pautas e gritos de guerra dos estudantes e trabalhadores da educação. O coordenador da Fenajufe, Fernando Freitas, afirmou que “a educação e o judiciário são alvos frequentes de ataques do governo, e não podemos aceitar. Portanto, estamos contribuindo para a Greve Nacional da Educação hoje e preparando a Greve Geral do dia 14 de junho”.
O Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que agremia 32 sindicatos e associações, com uma base de 200 mil servidores públicos das áreas de controle e fiscalização, tributação, judiciária, policial, inteligência de Estado e diplomacia, também soltaram nota conjunta em defesa dos atos da greve na educação, destacando que as mobilizações servem de “esquenta” para a greve geral de 14 de junho e põem em relevo a luta em defesa da seguridade social. “Os cortes anunciados pelo Ministério da Educação (MEC) nas verbas de custeio das universidades e institutos federais ignoram o papel estratégico que a educação superior e o ensino público representam para o desenvolvimento nacional, ameaçam a continuidade do ano letivo nessas instituições e, ainda, põem em risco o estímulo às novas gerações ao estudo e à pesquisa, na medida em que afetarão o pagamento de bolsas de mestrado e doutorado, além de outros efeitos nocivos. Não obstante os discursos ineptos e desconexos do ministro da Educação, não há justificativas plausíveis para o governo federal preterir a educação na alocação de recursos públicos.” A nota foi assinada por 28 das 32 entidades que compõem o Fórum.